Dia de Escalar não é um dia como os outros…
Cada buraco, ponto de rocha e presa invertida animam definitivamente mais os dias em que passamos "colados" à rocha “feitos lagartos” ao sol, naqueles (im)perfeitos labirintos de imagens mentais que permitem a elevação do corpo pelas vias.
Das muitas coisas que fizeram apaixonarmo-nos pela escalada é a incrível semelhança desta experiência com a vida em si. É uma metáfora perfeita. Quando se começa a escalar e surgem as primeiras dificuldades, encara-se o acto de escalar sob uma outra perspectiva, além do mero desporto. Trata-se simplesmente de um caminho de auto-conhecimento e transformação pessoal.
Na vida, todos temos objetivos, por menores que sejam. Sempre olhamos para algo que desejamos conquistar, material ou não. Na escalada, o objectivo é o topo, seja da via desportiva, do boulder ou da montanha. Em ambas, nós encontraremos dificuldades e desafios a superar para alcançar o objectivo. E é o modo como vais encará-los que vai definir as hipóteses de sucesso.
Na escalada, frequentemente encontramo-nos numa posição de conforto, pés bem apoiados, uma “presa” ideal para descansar e muito próximos da protecção. Mas não é possivel ficar naquela posição para sempre se queres chegar no topo. Terás que sair dessa posição de conforto e equilíbrio e buscar a próxima “presa”, lançando-te na angústia do desconhecido. Quantas vezes na vida não estamos em posição semelhante? Alcançamos uma posição na vida que é relativamente confortável, mas está longe daquilo que almejamos realmente. Muitas pessoas escolhem ficar nessa posição e não vão ao encontro “da próxima presa”. Tudo porque não querem correr o risco de cair, de fracassar.
Neste desporto, cair faz parte do processo e aprende-se muito com isso. Não se pode viver com medo da queda, assim como não se consegue escalar com medo de cair. Deve-se aceitar o risco da queda e controlar o medo. Não deixar que ele impeça de viver essa nova experiência na vida. É assim que se escala, e é assim que se deve viver. Essa é uma das revelações que se aprende sempre que nos "colamos" à rocha.
Ao escalar, nós enfrentamos muitos obstáculos e temos que tomar decisões: assumir o risco da queda ou recuar. Mais importante do que assumir o risco da queda, saber a hora de recuar torna-se muitas vezes necessário. A escalada ensina-nos muito e tentamos trazer para a vida os ensinamentos que ela proporciona. Não sabemos se as pessoas têm consciência disso, mas garantimos que não se fica a mesma pessoa quando se começa a escalar.
Nós já procuramos noutros lugares, mas foi subindo uma rocha, amarrados numa corda, enfrentando os nossos medos e fraquezas, que descobrimos o verdadeiro caminho para compreender o mundo e a nós próprios.